domingo, 22 de junho de 2014

O espelho da mentira

Olha para o espelho e diz o que vês em voz alta. Diz que o que sempre sonhaste ser não está neste momento à tua frente. Diz que queres desaparecer. Diz. Diz que já não és o que eras, diz que já não importa o que queres ser. Diz. Grita uma vez. Grita duas. Grita três. Diz o quanto estás a sofrer, diz o quanto a dor magoa. Diz. Grita. Grita até a dor desaparecer. Grita até ficares sem voz. Grita até cresceres, até perceberem que já não és criança. Corre até quem te quer bem. Afasta-te de quem te quer mal e grita mais uma vez. Grita liberdade. Grita sussurrando. Grita que mudaste. Grita que o tempo mudou e corre mais uma vez. Corre para o presente. E deixa o passado atrás, deixa lá tudo o que alguma vez te fez duvidar de ti mesmo. Deixa lá atrás tudo o que um dia te fez querer fugir. E orgulha-te de ti, de mim, de nós que superámos a dor. Que superámos a mágoa. Que superamos a superficialidade para admirar o interior.
Volta a olhar para o espelho. E diz-lhe que te mentiu. Diz-lhe que já não acreditas nele. Diz-lhe que acreditas agora em ti. E grita-lhe mas grita-lhe devagar porque em tempos era nele que confiavas.

(Este texto fora retirado de um antigo blog, da nossa autoria, que deixou de ser utilizado e substituo por este.)